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Obstáculos à verdade

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Membros da Comissão Municipal da Verdade em coletiva de imprensa / Fotos/Francisco Souza

Membros da Comissão Municipal da Verdade em coletiva de imprensa / Fotos/Francisco Souza
Membros da Comissão Municipal da Verdade em coletiva de imprensa / Fotos/Francisco Souza

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Leandro Conceição

Com diversos depoimentos de vítimas da repressão durante a ditadura militar (leia um deles ao lado), a Comissão Municipal da Verdade de Osasco (CMVO) enfrenta obstáculos para encontrar registros deste período obscuro da história do país e ter acesso aos locais de tortura e aos torturadores. E corre contra o tempo para concluir, até 21 de novembro, seu relatório para ser anexado ao da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que deve ser concluído em dezembro.
As informações sobre o andamento dos trabalhos foram apresentados pelos membros da Comissão em coletiva de imprensa na quarta-feira, 22, na Câmara de Osasco.

Para convocar torturadores a depor e ter acesso a locais de tortura, a Comissão Municipal busca o auxílio da Comissão Nacional. “Solicitamos à CNV, que tem poderes de convocação, a convocação de algumas pessoas citadas junto ao aparelho repressor. E que também atue junto ao Ministério da Justiça para termos acesso aos locais de tortura, aos quartéis”.
Sobre as intervenções da ditadura na legislação municipal e no funcionamento da Prefeitura e da Câmara, a presidente da subcomissão sobre o tema, a vereadora Mazé Favarão (PT), afirma: “Pela própria natureza da repressão naquele período, não se encontram registros”.

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Os membros da CMVO defenderam ainda a revisão da Lei da Anistia: “O Brasil é o único país da América Latina que ainda não tomou nenhum procedimento quanto a isso. É um peso”, avaliou o coordenador geral da CMVO, Albertino Oliva. “Tortura não é um crime prescritível”.

IMG_20141022_163356600Confundido com “subversivo” e torturado

Em julho de 1969, uma noite namorando em um Fusca 62 vermelho em uma rua perto do quartel de Quitaúna, em Osasco, mudou a vida de Amiraldo Santana, o Sinho Alfaiate. “Eu era um alfaiate em ascensão. Comprei o primeiro carro, conheci a Maria Helena, minha esposa, e, como muitos jovens, ficávamos no carro namorando. De repente ouvimos um estrondo. O primeiro tiro fez os vidros do carro voarem na nossa cara. De repente, veio um monte de balas”.
Sinho e a namorada sobreviveram porque ficaram abaixados. Quando os tiros diminuíram, conseguiram fugir. No dia seguinte, foi procurado em casa por militares. Havia sido confundido e era acusado de subversão. “Fiquei preso oito dias e oito noites”, lembrou, às lágrimas em depoimento à Comissão da Verdade de Osasco na quarta, 22 (foto). “Fui torturado, pressionado psicologicamente. Me chamavam de comunista e diziam que iam me matar”. Sinho foi solto graças ao pai, que bateu na porta de diversos militares para pedir ajuda.
“Depois de solto, começou meu martírio profissional. A clientela sumiu. Muitos atravessavam a rua para não ter de me cumprimentar. Levei seis, sete anos para me recompor”.

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