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“Até o final da minha vida vou carregar a bandeira da injustiça”

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DSCF1363 Jeferson Martinho e Fernando Augusto

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Na véspera de lançar novo site e promover debate as eleições de 2014 [veja mais em Visão Atenta], o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) concedeu entrevista exclusiva ao jornal Visão Oeste. Em primeira mão, anunciou que independente dos desdobramentos no julgamento do mensalão, não pretende mais pleitear um mandato. Falou das eleições em Osasco, de seu silêncio, da relação com o ex-prefeito Emídio e do desempenho do PT. Considerando-se injustiçado, o deputado avalia que sem reforma política o Brasil continuará com problemas de ética e corrupção. “O sistema leva a isso”.

Como o senhor está encarando todo esse processo com a sua condenação?

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Nós temos duas dimensões para enfrentar o problema: uma é mais universal, mais institucional, de homem público; e uma outra forma é a opinião mais pessoal, mais de alma, mais de coração. Do ponto de vista político, acho que as coisas estão bem, eu sou uma pessoa satisfeita com o produto da política que eu ajudei a produzir, em Osasco, em São Paulo e no Brasil. Então me sinto confortável com o que a Dilma está fazendo, e o que o Emídio fez, o Lapas está fazendo, etc. O Brasil que nós pegamos em 2002, o Brasil que a Dilma pegou em 2010 e o Brasil que nós vamos deixar, é uma diferença brutal. Claro, ainda há muitos problemas. Um deles, que eu acho o mais sério, é o problema da reforma política. Se o Brasil não fizer a reforma política, a gente está fadado a ter permanentemente problemas de ética e corrupção, que envolvem o financiamento de campanha. O sistema leva a isso.

A segunda coisa é uma dimensão mais pessoal. Estou enfrentando o problema, sei das dificuldades que esse problema traz e tenho um suporte bom, que é minha família, meus amigos, meus companheiros aqui da região e de outros lugares também. Tenho meu coração bem tranquilo. É como diz o Valter Franco, “a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo”. Eu tenho superconsciência do que eu fiz, do que eu deixei de fazer, então eu vou superar. Não é fácil, é difícil, porque é lutar com um monstro que você não sabe a cara, a força que ele tem, e tem que enfrentar.

 

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Mas é um choque receber a notícia de uma condenação…

 

É um choque. Mas nós estamos aguardando, porque se tiver o recurso é outra coisa. Nós estamos com os recursos apresentados, temos os embargos declaratórios que estão sendo avaliados pelo Supremo, a minha expectativa é que o Supremo aceite os infringentes, se aceitar nós teremos a oportunidade de avaliar algumas condenações que tiveram quatro votos contra a condenação, e aí vai permitir que a gente faça numa outra situação esse debate, então, quer dizer, temos que usar todos os recursos possíveis que o direito permite.

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Caso seja mantida a condenação, isso vai fazer com que o senhor apele para um tribunal internacional?

Essa é até uma hipótese, porque na realidade toda vez que você é condenado de forma injusta, você tem que buscar todos os recursos possíveis. Nós temos ainda, além dos embargos declaratórios, infringentes, uma revisão criminal, temos uma série de coisas ainda a fazer no Judiciário brasileiro. E posteriormente a isso temos que buscar também nos tribunais internacionais, porque um julgamento político dessa magnitude, com o empenho da mídia desenfreada pela condenação, sem o direito adequado de defesa, com condenação sem prova e contra as provas, então nós não podemos deixar passar isso. Nós, que sempre lutamos por justiça, temos que levar até o fim, inclusive em tribunais internacionais.

Como o senhor avalia hoje ter optado pelo silêncio quando deixou de ser candidato à prefeitura? E quanto à reação partido em nível nacional e local a tudo que aconteceu?

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O PT como partido, como maioria absoluta, nunca me faltou com solidariedade. Os companheiros nunca me abandonaram. Claro que você pode ter um caso aqui ou ali de falta de solidariedade, de falta de gratidão e etc. Mas no conjunto eu não tenho o que reclamar do PT. A segunda coisa, a minha retirada e substituição do Lapas foi até uma coisa natural. Como o Lapas era vice ele virou o candidato, uma combinação com nosso companheiro Emídio, na época o prefeito, e acabou dando certo. E eu optei pelo silêncio no período pré e pós-eleitoral, porque ele ajuda muito você a falar um pouco com você mesmo, a refletir sobre os limites do ser humano. E mostrou-se correto também politicamente, porque à medida que eu me afastei, foi permitido a condução do Lapas, e que virasse o prefeito da cidade.

O senhor se arrepende ou teve alguém que o questionasse por ter entrado na disputa mesmo tendo que enfrentar a ação penal?

Nunca ninguém me falou nada e eu não me arrependo. Acho que agi corretamente. Eu me sentia o mais preparado para administrar a cidade, conheço demais Osasco, os problemas, as dificuldades, tinha uma relação fora da cidade que eu acho que podia ajudar bastante. Tinha apoio de 100% do PT, apoio dos partidos, então, acho que eu fiz correto. Na história, o Supremo é que vai ter que dizer: eu era o 15º réu, e o meu caso era o 3º capítulo da denúncia. Por que o presidente Joaquim Barbosa me colocou em primeiro lugar para ser julgado? E o meu caso ficou 16 dias em julgamento, só na Rede Globo foram quase 3 horas no sistema globo, nem a Coca Cola tem isso. Era uma luta muito desigual.

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Durante o processo eleitoral, toda a imprensa local noticiou um possível racha entre o senhor e o então prefeito Emídio. Houve de fato?

Não, em muitos momentos nós temos opiniões diferentes, mas isso não significa racha, isso é uma circunstância e naquela você pode achar que é mais assim ou mais assado, mas não significa racha, muito menos na campanha, que estava supertranquilo e continuou tranquilo até o final.

E depois, o processo de definição da candidatura do Emídio para a presidência estadual do PT?

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Eu sempre disse que eu seguiria a definição do campo majoritário, como a gente chama dentro do PT. Eu achava, naquele momento, que o perfil melhor para a presidência do PT era de outro companheiro. À medida em que o outro companheiro resolveu, a pedido do ex-presidente Lula, se retirar e apoiar o Emídio, que era o que tinha mais disposição, mais disponibilidade, e estava com mais vontade de ser presidente do PT. Então todos nós nos integramos à campanha do Emídio. É um caso também já superado. Naquele momento eu estava com uma opinião diferente do perfil ideal para presidir o PT, mas o Emídio, tenho certeza que será um bom presidente.

Para todo mundo seria natural que você apoiasse o Emídio…

Eu acho que para as pessoas de fora talvez tivesse uma coisa mais natural mesmo. Mas na minha opinião, naquele momento, diante do quadro que estava colocado lá, acho que tinha um perfil melhor. Não que o Emídio não possa desempenhar, e eu tenho certeza que desempenhará. De qualquer forma está superado, o Emídio é o candidato natural.

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Como o senhor está encarando a disputa de 2014?

Olha, eu acho que nós vamos ter uma eleição muito disputada no Brasil e muito disputada aqui em São Paulo. Acho que o favorito, no plano nacional, é a Dilma, e o favorito no plano estadual é o PSDB. Entretanto a situação tem mudado muito rapidamente, então a gente precisa tomar cuidado. A minha impressão é que o material do PSDB está mais fadigado do que o material do PT. O [Alexandre] Padilha e muito preparado, é um companheiro que conhece muito o Estado, tem a experiência de ter sido Ministro em mais de duas pastas, acho que vai ser uma boa disputa, estou muito otimista. E, São Paulo está na hora de experimentar um governo do PT. Aproveitando, vou fazer um parêntese: veja a forma que a grande imprensa trata o PT. Para a maioria dos colunistas é um absurdo o PT governar o Brasil por 10 anos. No entanto, o PSDB governa há 20 anos São Paulo e ninguém fala nada.

O senhor não acha que é um risco a aposta do Padilha no “Mais Médicos”, tentando deixar como marca?

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Na realidade, não foi nem o governo, nem o Padilha que quis fazer isso. Quem está tentando fazer isso é a mídia. A experiência, a vida do Padilha, não é só o “Mais Médicos”. Ele [o programa] é só uma face do trabalho que ele tem feito na saúde. O Alckmin tem que responder o que ele fez pela saúde nesses  20 anos que eles estão governando. O debate de Saúde é isso: dois anos e meio do ministério do Padilha e 20 anos do Alckmin.

E a denúncia do propinoduto no Metro, vai interferir no cenário de 2014?

Eu sou muito reticente nesse debate, porque não acho que ele seja o definidor e não é, assim como o mensalão não foi. A população quer saber de coisas mais do dia a dia. Não que esse assunto não seja importante. E ele tem um vinculo com os movimentos de junho, com o desenvolvimento urbano, transportes, etc. Mas não é eixo da disputa de 2014.

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Se houver prisões, podem coincidir com esse período eleitoral. A imagem de políticos sendo presos pode influenciar?

Não acho definidor. Tem sua importância, mas não acho que seja definidor. O mensalão já foi usado em 2006, 2008 e 2012; não será surpresa se for usado em 2014. Não espero também que o PT faça desse debate um tema pra se defender nem pra atacar ninguém.

Por trás da sua condenação, na sua opinião, existiria um interesse partidário, ou seria corporativo?

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Foi uma combinação das duas coisas. O próprio procurador geral disse que é bom ter repercussão política em julgamento. Tinha uma certa intenção de produzir resultado, então é usado.

Não é assustador que esse tipo de critério possa atingir o órgão maior da Justiça brasileira?

Sim, tanto é que o nosso judiciário e a nossa televisão são uma jabuticaba, só tem aqui no Brasil.

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O senhor é contra a transmissão das sessões?

Sou. Porque a razão da justiça é você ter juízes que guardam certo recato, reserva, para que ele possa julgar com base na lei. Mas que seja também uma sentença de um juiz que não precise ficar disputando opinião pública como quem procura o voto. No nosso caso, vários ministros estão fazendo discurso político porque a TV está lá. No meu caso, fui condenado por três razões: ser do PT, estar presidindo a Câmara na ocasião e por ter o contrato da agência lá na Câmara dos Deputados. Porque as provas levantadas me absolviam.

A mídia tem gerado esses embates…

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Sim, não somente embates de discurso, até coisa de roupa, cor da gravata, passam a disputar opinião pública, não votam de acordo com a justiça, mas sim com a opinião pública. A diferença é que o sujeito não presta contas a ninguém, é vitalício, diferente do político. O parlamente é quem tem que estar em sintonia com a opinião pública.

No caso da votação secreta do Natan Donadon, o senhor é a favor desse tipo de votação secreta?

Prefiro não falar nada sobre isso, porque a minha não votação de ontem é por razões óbvias, por conta do processo.

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A região elegeu vários prefeitos alinhados à esquerda. Como o senhor avalia o desempenho da região, em especial de Osasco?

Acho que estamos vivendo um momento difícil para os municípios, estamos tendo muitos problemas. Na minha avaliação, tanto Osasco quanto as outras cidades estão indo bem. O Lapas está em um primeiro ano bom.

O senhor acha que as manifestações de junho terão reflexo político, não só no cenário eleitoral, mas na reforma política talvez?

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Esse tipo de movimento, sem muita organização, deixa poucos frutos, a experiência no mundo mostra isso. Tudo que você apresenta como reivindicação precisa aparecer em algum lugar, e precisa virar uma lei ou política de estado. Foi importante para mostrar para muita gente que vivemos aqui uma paz que não é muito paz: ainda temos a sociedade injusta, desigual. Mas não consigo enxergar resultado desse movimento para a eleição do ano que vem ainda. Pode ser que tenha. É como nos EUA, o Ocuppy Wall Street: depois vieram as eleições e não tivemos ninguém daquele movimento se candidatando e muito menos ganhando.

A presidente Dilma procurou dar uma resposta imediata. Por outro lado não encontrou muito apoio junto à classe política no congresso. Não há uma dissonância entre a classe política e os anseios da população?

Acho que a Dilma agiu corretamente, com aquilo que estava ao alcance da sua alçada responder, tanto que quase todos os pactos estão em andamento. Os royalties da Educação promoverão uma mudança muito grande. O plebiscito também, embora não tenha mais as perguntas originais, mas apresentamos outras a ela [Presidente Dilma]. Há o “Mais Médicos”, depois o [programa de] Mobilidade Urbana. Ela respondeu dentro daquilo que estava ao seu alcance. Agora, a rua é muito mais ampla do que os movimentos que existiram. E a classe política é menor do que aquilo que as pessoas falam. Ao mesmo tempo, a classe política sofre de um problema originário do sistema do Brasil. Para a maioria dos eleitores, político nenhum presta. O nosso sistema é individualizado, você se compromete com o candidato, ele se compromete com você, e não há programa para o Legislativo que seja de partido. O povo não consegue localizar o problema da política.

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E o grande número de partidos?

Sim, além de uma distribuição errada! Em Roraima, com 400 mil votos você elege um senador. Aqui em São Paulo precisa 8 ou 10 milhões. Tem estado que elege deputado com 18 mil votos.

Por que a reforma política é tão espinhosa para ser debatida no Congresso?

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Tem o problema cultural. Ao mesmo tempo, alguns políticos não querem essa mudança. E terceiro, [o problema] se retroalimenta com uma parte da imprensa que não quer mudar. Esse sistema acaba sendo manancial de manchetes. Um exemplo foi o voto secreto do Donadon. O Legislativo é tão rejeitado porque a maioria dos votos dados aos deputados são votos perdidos, assim como nos vereadores. Somados, todos os vereadores eleitos de Osasco tiveram o que? 65 mil votos? Com dois candidatos a prefeito você já ultrapassou isso. Se fizer uma pesquisa, sempre a rejeição ao Legislativo será maior do que aprovação.

Você defende que o sistema seja alterado para qual modalidade? Lista, distrital, misto?

Sou favorável há muitos anos à lista fechada, com financiamento público e exclusivo de campanha, com fidelidade partidária, prestação de contas de 15 em 15 dias, teto nacional de gastos. Agora qualquer coisa que vier para melhorar é bem-vinda, até porque eu fui vítima disso.

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Os críticos da lista dizem que isso torna a eleição muito fechada e que sempre os mesmos escolhidos pelos partidos estarão nos cargos?

Acho uma bobagem. É o contrário, porque os partidos podem colocar quadros da sociedade nas suas listas que não têm voto e que teriam cadeiras no Legislativo. Já o contrário não é verdadeiro. Se você coloca uma pessoa com excelente preparo, candidato a deputado, perde a eleição. A lista permite oxigenar. E teria um enxugamento dos partidos, de forma natural. Além de reduzir a barganha no Legislativo. Foi eleito para oposição, vai ser oposição e pronto.

O senhor está saindo da política?

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Da política, com mandato, estou. Não vou ser mais candidato.

Mesmo depois que encerrar a turbulência?

Aí já vou estar velho [risos], fazendo outras coisas. Acho que a minha contribuição eu já dei; vou deixar para outros companheiros. Mesmo saindo, não vou tirar essa preocupação, [continuarei] fazendo política de outras formas.

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Pode detalhar os próximos passos da defesa?

O embargo declaratório rigorosamente não tem o papel de reformar a sentença. Mas caso a contradição ou a omissão seja tão forte, ele pode adquirir caráter infringente, aí sim ele pode alterar alguma coisa na sentença. Terminada essa fase, se admitido, vamos ver o acórdão que será produzido. Dependendo da sua produção, pode gerar um pedido de revisão criminal ou não. Fora isso, tem os fóruns internacionais, em busca do direito de defesa, do duplo grau de jurisdição.

Com potencial para alterar o ordenamento jurídico brasileiro?

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Não sei se para isso. No meu caso, a decisão é a seguinte: até o final da minha vida vou carregar a bandeira da injustiça que foi cometida.

Na sexta o senhor oficialmente não vai mais colocar seu nome nem prazo pra voltar à política?

Não, eu não pleitearei mais mandato, e anuncio amanhã [sexta, 30/8]. E não dá pra ter prazo. Nem sei o que vai acontecer. Acho que é muito tempo, estou decidindo isso agora com tranquilidade, não estou sofrendo.

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Como tem sido desempenhar o mandato nesses últimos meses?

Depois de 2012 eu utilizei o 1º semestre mais pra dialogar com os ministérios sobre a cidade de Osasco. Virei candidato a prefeito, não deu certo. Fiquei uns meses fora. Esse ano, estou fazendo as minhas coisas, então mantenho contato com os ministérios, com as cidades que tenho relação, prefeitos, vereadores, tenho meus projetos lá, minhas emendas paras cidades; o mandato continua. O que eu tinha parado um pouco são as redes sociais, o site, twitter, facebook. Amanhã vou apresentar um novo site, novo twitter, facebook e recomeço na semana que vem com as informações online, atualização diária.

O senhor sempre foi conhecido por se envolver pessoalmente com as redes sociais. Acha que elas alteram a força e o contato com o eleitor?

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Elas são vitais agora. O problema é que é muito forte pra protestar, pra xingar, uma rede forte de indignação. Só que elas ainda não acharam a liga para produzir algo que seja mais concreto. Para qualquer político ou pessoa que queira manter contato público, no entanto, é fundamental. E eu defendo que os cidadãos busquem tentar conhecer o candidato político mais amplamente, porque isso define muito do que ele é. Do que o cara gosta, de futebol, cinema, se vai ao teatro, que aí permite ao eleitor falar ‘pô esse cara faz isso e pensa assim!’.

2 COMENTÁRIOS

  1. Uma grande injustiça o que fazem com João Paulo Cunha, Osasco vai perder o deputado que mais verbas trouxe para melhorar a vida dos Osasquenses, é uma pena, mas a justiça um dia sera feita, força João Paulo, Osasco esta com vc.

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