Início Opinião Augusto Cury: O que morre antes de um jovem pensar em suicídio?

Augusto Cury: O que morre antes de um jovem pensar em suicídio?

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Por Augusto Cury – médico psiquiatra, psicoterapeuta, pesquisador e escritor. Pós-graduado no Centre Medical Marmottan – Paris/França, na Espanha e na PUC de São Paulo. 

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Todos os pais e educadores estão em alerta e angustiados com o crescimento dos casos de suicídio entre adolescentes.

Estamos na era da inteligência artificial, na era do estresse, em que precisamos mais do que nunca conhecer a mente humana. Os pais estão desesperados. Antes eles apresentavam dificuldade em admitir que tinham perdido o controle dos seus filhos, hoje já sabem que não possuem esse controle.

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Estamos diante de uma geração que se vê presa e vítima das armadilhas da mente: do coitadismo, conformismo, imediatismo, superficialidade, necessidade neurótica de estar sempre certo, dificuldade de reconhecer erros, baixa resiliência, insegurança, baixa autoestima – uma geração que não sabe proteger a sua emoção. Os adultos fazem seguros de todos os seus bens, mas não possuem consciência da necessidade de fazer seguro emocional. As crianças e jovens, por conseguinte, também não aprendem sobre proteção emocional com seus pais.

Algumas pesquisas têm apontado que crianças expostas por longos períodos às telas digitais tornam-se mais calmas. Mas, muito ao contrário, esta exposição constante tem intoxicado mentalmente nossas crianças, tornando-as cada vez mais ansiosas e agitadas. O excesso de informações, por si só, acarreta diversas doenças psicossomáticas.

Quem está assumindo o controle da mente de nossos jovens? Podemos afirmar que no âmago do cérebro há um biógrafo não autorizado se infiltrando o tempo todo para tentar escrever todos os capítulos da vida deles! A cada pensamento negativo, perturbador, a cada ideia que os aprisiona, a cada momento, esse biógrafo assume um posto de comando, e dita as diretrizes que irão constituir os textos vividos de nossos jovens. Cumpre-nos a responsabilidade e a importância de os ensinar a combater estes pensamentos, assumindo as rédeas de seus pensamentos, aprendendo a gerenciar, também, suas emoções!

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Devemos nos questionar: o que morre dentro de um jovem antes que venha a pensar em suicídio? Quando pensamos em jovens bem resolvidos, felizes, que têm uma relação aberta, afetiva com seus pais e educadores, que se sentem amados e acolhidos, mesmo diante de suas limitações e dificuldades, certamente pensamos em jovens que não se dobrariam ao desejo de tirar a própria vida. O desejo de suicídio surge quando o jovem pondera que não terá grandes perdas ao deixar a vida que leva!

A cada ano, no Brasil e no mundo, temos presenciado um aumento angustiante na taxa de suicídio, em especial entre a faixa etária de 10 a 19 anos. O suicídio já é a segunda causa de morte entre os jovens.

Você, pai, responsável, precisa não somente vigiar as redes sociais, o acesso que o seu filho tem na internet, mas, sobretudo, precisa criar vínculos afetivos seguros, conduzir seu filho a se sentir amado, desejado, pertencente à sua vida, à sua história, à sua família, estar presente, auxiliando-o, sem invadir o espaço dele, observando o que se passa na mente dele, por meio de diálogo, checar quais os “monstros” que encontram-se por dentro da psique do seu filho. Quais são os pensamentos negativos, quais são os seus medos, quais são as suas angústias, o que está no controle dos pensamentos dele?

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Falta autoestima e autocontrole aos jovens, além de outras habilidades socioemocionais. É necessário que os pais criem pontes com os filhos, – jamais permitindo que estes se isolem em suas ilhas emocionais. Nós precisamos ensinar as nossas crianças a desenvolver uma autoestima alta, uma autoimagem saudável, que aprendam a se enxergar e a se amar, valorizando-se.

Segundo pesquisas, hoje no Brasil, dois milhões de meninas sofrem de anorexia nervosa, 80% dos jovens já sofreram algum tipo de bullying pois se sentiram altamente constrangidos em algum momento. É preciso, com urgência, ensinar os nossos filhos e alunos a se defenderem do sistema que impõe padrões altíssimos de beleza, de sucesso, de capacidade intelectual, etc. Precisamos ensiná-los a serem autores da sua própria história, e não vítimas deste sistema, a trabalhar suas perdas e frustrações, a ensiná-los que o seu valor está naquilo que ele é e não naquilo que os outros dizem que ele é. Ao fazer com que se sintam únicos e insubstituíveis, nós estamos prevenindo o suicídio!

É necessário e imprescindível prevenir. Não basta remediarmos. Nós chegamos a mais de 7 bilhões de habitantes porque a medicina preventiva foi a menina dos olhos de ouro das gerações anteriores e hoje nós precisamos usar a Psicologia, a Pedagogia e a Filosofia, como a menina dos olhos de ouro na prevenção. Nós precisamos promover a saúde, e não só olhar para a doença.

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Ao trabalharmos as habilidades socioemocionais, e darmos ferramentas psicológicas para o enfrentamento às dificuldades da sociedade atual, estamos juntos no combate ao suicídio, que têm assombrado a vida de nossas crianças e dos nossos jovens. Só assim teremos uma geração de jovens que saberá que o seu valor está no que eles próprios pensam e investem em si, sendo autores de suas próprias histórias!