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Corrupção some com 35 km de metrô

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Enio TattoEnio Tatto (deputado estadual pelo PT-SP)

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Desde meados da década passada a Bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa denuncia o escândalo do sistema metroferroviário paulista (Metrô e CPTM). Esse escândalo decorre de acertos em licitações e pagamento de propinas a agentes públicos perpetrado por um esquema formado por cerca de 15 empresas, com contratos junto ao governo do Estado de São Paulo que somam, no mínimo, R$ 30,5 bilhões.

Estima-se que, em média, os contratos trazem embutidos um superfaturamento de 30%, ou seja: de cada três reais um foi desviado para ser divido entre as empresas e para pagar propina a funcionários do governo do Estado nas gestões do PSDB.

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A informação de 30% de sobrepreço foi dada pela empresa Siemens – uma das integrantes do propinoduto – ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A empresa afirma que o governo de São Paulo sabia e deu aval à formação do cartel para licitação de obras do sistema metroferroviário.

Tomando por parâmetro que de cada três reais um foi desviado, podemos inferir que se a malha do Metrô possui hoje 70 km de extensão, não fosse a corrupção, teríamos 105 km, ou seja: sumiram com 35 km de metrô.

Duas das empresas cabeças do propinoduto – a francesa Alstom e a alemã Siemens – sofreram multas bilionárias decorrentes de processos judiciais na Suíça, Estados Unidos, Alemanha e França. Motivo: pagamento de propina em vários países do mundo para vencer contratos. Em relação ao Brasil, ambas as empresas detalharam como funciona o esquema de corrupção.

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Apesar de esses fatos terem vindo à tona em 2004 e 2008, não foram suficientes para, digamos, sensibilizar os ministérios públicos, a base governista na Assembleia Legislativa e os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para investigar as denúncias. A grande imprensa nacional, estranhamente, inclusive se omitiu em noticiar esses acontecimentos.

O escândalo somente veio à tona porque a matriz da Siemens na Alemanha determinou aos executivos da empresa no Brasil que negociassem com o Cade a delação do esquema em troca do abrandamento das penas. Como a matriz já foi multada, não quer ser alvo de novos processos em seu país.

Uma das denúncias de superfaturamento envolve a Linha 5 Lilás do Metrô, que liga o Capão Redondo à Chácara Klabin, construída em duas fases. Na segunda fase, iniciada em 2010, com custo de R$ 4,6 bilhões, as obras foram suspensas por cerca de seis meses, pelo Ministério Público, depois de denúncia da Folha de S. Paulo de que a licitação estava viciada e havia vencedores de antemão.

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Em função da denúncia ingressei, em de maio de 2011, como líder da Bancada, juntamente com o deputado João Paulo Rillo (PT), com representação junto ao Ministério Público do Estado (MPE). Para apurar outras denúncias envolvendo o sistema metroferroviário a bancada do PT ou deputados do Partido em caráter individual protocolaram mais de 20 representações junto ao Ministério Público Estadual e Federal. Não deu em nada porque quase todas foram arquivadas ou engavetadas.

Diante desse esquema de corrupção milionária que ocorre há mais de 20 anos, percebe-se que Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), órgão de fiscalização dos atos do Executivo, não cumpre a contento seu papel constitucional. Suas decisões são muito mais políticas do que técnicas. Para ser mais transparente e eficaz no combate à corrupção, o TCE-SP deveria adotar a transparência ativa, colocando na internet o inteiro teor de seu banco de dados a respeito de todos os processos.

A Bancada do PT também tentou por diversas vezes convocar autoridades para prestar esclarecimentos, como os presidentes do metrô e da CPTM e secretários de Estado. Igualmente tentou instalar Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o esquema. Nenhuma dessas iniciativas prosperou porque a maioria situacionista da Assembleia blinda o governo.

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Depois de tantas denúncias, finalmente agora o Ministério Público Estadual (MPE) anunciou que investigará a relação dos governos tucanos com o esquema de propinas. Conforme o próprio MPE, promotores conduzirão nada mais nada menos do que 45 inquéritos para apurar a suspeita de enriquecimento ilícito de agentes públicos e improbidade administrativa ocorridos antes e durante a execução dos contratos.

As investigações têm de esclarecer também se as empresas ganharam as licitações por ser parte do esquema de corrupção ou pela capacidade técnica para realizar os serviços previstos nos contratos. Afinal o Metrô e trens da CPTM a cada dia estão mais lotados e as panes, atrasos e descarrilamentos nos dois sistemas são mais recorrentes. O montante desviado poderia ter sido usado para resolver esses problemas, construir novas linhas e dar mais conforto e segurança aos usuários.

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