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Editorial: o que os olhos não vêem

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O surto do vírus ebola que atinge alguns países da África deveria provocar uma profunda reflexão sobre pelo menos dois temas da atualidade: os desafios da saúde pública diante de uma ameaça tão preocupante como essa doença e, segundo e mais importante, o papel das nações mais ricas na ajuda humanitária e financeira a um continente que, embora seja o berço da humanidade, foi por ela esquecido.

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As formas de contágio e a letalidade do vírus (de mais de 70% dos casos), dificultam sua disseminação pelo mundo. E talvez essa tendência a ficar restrito ao continente africano seja justamente o que condena o povo daquela região à lentidão e descaso dos organismos internacionais. O que não afeta as ricas potências não recebe atenção.

A organização Médicos Sem Fronteiras vem alertando para o problema desde o início do ano. Mas só depois que estrangeiros foram contaminados em países africanos a comunidade internacional verdadeiramente começou a se preocupar.

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Diferente de diversas outras doenças que assolam o mundo, ainda não se viu uma corrida para desenvolver um tratamento para o ebola, cujos números são aterradores. O fato de o contágio poder ser contido com medidas relativamente simples de higiene e isolamento, desde que em condições hospitalares adequadas, só torna ainda mais vergonhosa a reação internacional de indiferença registrada desde o início do surto.

Se os sistemas de saúde públicos são problemáticos em quase todos os países do mundo, na África deixa de ser uma questão de saúde pública para se transformar em exemplo de crueldade. No final, o pais historicamente explorado por nações imperialistas, marcado por conflitos étnicos e tribais internos e externos, massacrado pelo apartheid e, pior de tudo, assolado desde sempre pela fome, continua sendo vítima do mesmo sistema de sempre: vista grossa e insensibilidade do resto do mundo.

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