A delicada situação à qual chegou o país, culminando com o rebaixamento do grau de investimento do Brasil por uma das agências de classificação de risco internacionais – a S&P, traduz em fatos concretos uma urgência que, até então, somente se fazia sentir de forma mais profunda no campo da política. A urgência de encontrar uma linha coesa e lógica de ação, que combine discurso e prática, teoria e aplicação.
É inegável que o segundo mandato da presidente Dilma começou pressionado por um terceiro turno interminável e andando descalço numa navalha afiada chamada crise. Mas seus tropeços, e os cortes na carne, vieram por suas próprias ações, não por uma conjuntura esotérica ou uma conspiração midiática obscura (embora seja indiscutível a predileção da grande mídia por uma agenda que aprofunde a crise).
Governo precisa apresentar uma estratégia sólida e demonstrar que encontrou um rumo
Desde o início, o governo eleito pela maioria, esperançosa da continuidade das bases progressistas que sempre identificou no Partido dos Trabalhadores, optou por uma guinada na direção das pautas que fundamentaram o programa da própria oposição. Mas foi uma decisão errática, sobretudo no campo da economia. Sem consolidar suas bases de apoio no Congresso, o governo distanciou-se do diálogo com suas bases nos movimentos sociais e sindicais, e, para piorar, atravessa dificuldades astronômicas para levar adiante sua nova agenda conservadora.
A todo instante apresentando à sociedade pautas talvez necessárias, mas profundamente indigestas, e quase na mesma velocidade recuando depois do desgaste, o governo Dilma segue consolidando uma impressão de indecisão e falta de estratégia que faz estremecer à maior das convicções. Ainda há tempo de corrigir, mas o governo federal precisa apresentar uma estratégia sólida e demonstrar que encontrou um rumo. Caso contrário, corre o risco de transformar em profecia o que, por hora, é apenas uma teoria da conspiração.
