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Espinosa (1946-2018)

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Espinosa
Foto: Eduardo Metroviche/arquivo/Visão Oeste

Por Antônio Carlos Roxo, doutor pela USP, professor visitante da Unifesp-Osasco e analista do Seade

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“O medo que nos toma a todos de estarmos sendo inferiores à nossa tarefa, ou de não conseguirmos fazer algo de definitivamente útil para o nosso tempo.” (Antonio Cândido)

Pois bem, Antonio Roberto Espinosa esteve à altura das exigências de seu tempo. Enfrentou com bravura e destemor as lutas que a vida lhe cobrou.

Generoso ao se entregar ao que acreditava, sabia que as lutas que se travavam nas trincheiras do campo popular deveriam ter o alicerce forjado na unidade, pois as mudanças essenciais e necessárias só se dariam com esta união.

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“Aceitar a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.” (Carlos Drummond de Andrade)

Os versos de Fernando Pessoa, captam sua profunda relação com Osasco:
“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”

Esteve presente na organização do jornal “Batente”, que em Osasco era ponto de convergência da resistência democrática à ditadura.

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Participou, em 1968, da greve da Cobrasma, marco da luta operária contra o arrocho salarial e contra os crimes do regime civil-militar.

Quase ao mesmo tempo entrou para a luta armada, quando o terror e o arbítrio se abateram aos que se opunham à ditadura. Luta heroica de jovens em defesa da democracia e pela justiça social. Preso e barbaramente torturado, assistiu às torturas que levaram pessoas queridas à morte física e psíquica.

Ao sair da prisão, após período na Editora Abril, retornou a Osasco, para dar continuidade ao projeto (iniciado no “Batente”) de uma imprensa livre, democrática e moderna na província.

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Fundou, concebeu e dirigiu o “Primeira Hora”, torrando a indenização que recebera da Abril. Se impôs padrões de qualidade e ética muito acima do que era necessário para sobreviver e, por isso, naufragou. Perdeu tudo, menos o caráter.

Coordenou na Prefeitura de Osasco o projeto Osasco 50 anos, no cinquentenário da cidade, com pedagogia avançada para elencar as contribuições e desafios para os seus próximos cinquenta anos.

Mentor da Comissão Municipal da Verdade de Osasco (para nunca esquecer e para nunca voltar a acontecer), era seu entusiasta.
Voz muito ouvida na Frente Brasil Popular do Oeste Metropolitano, em particular pela juventude aguerrida que o tinha como ídolo.

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Participou de lutas várias, inclusive contra o golpe recente no impeachment de Dilma com quem compartilhou o comando da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares) na resistência ao golpe de 64.

Recentemente atuou ativamente na greve da FIEO, apoiando de todas as formas, mesmo não sendo mais dos seus quadros, visto ter sido aprovado em concurso para professor da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo. Os alunos da Unifesp agradecem!

Não fugia dos debates nem se escondia da luta, sempre pronto a colocar suas ideias em confronto, forma permanente de elevação do conhecimento. Pagou alto preço por isto. Vislumbrando nova onda fascista, preocupado, estava na linha de frente do movimento #EleNão, convicto de que se engajava, mais uma vez, no bom combate.

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Não era calculista ou oportunista, dos que ficam na espreita para pular para o lado vencedor, estava sempre do lado da justiça, da ética e da democracia, a mais radical, a direta.

Integrante da comissão de organização das festividades pelos 50 anos da greve da Cobrasma (1968 + 50 A Luta contínua), já enfraquecido, esteve em sua última reunião com propostas de atividades e mobilizações. No dia 17, participou do ato (em cuja organização esteve ativo) sobre os 40 anos da morte de Zequinha Barreto, executado no Sertão da Bahia, junto com Lamarca, por membros do Exército assessorados pelo delegado e torturador Fleury e seus asseclas.

Dia 22 de setembro, esteve novamente no Sindicato dos Químicos para o encerramento das atividades de comemoração dos cinquenta anos da greve e no resgate da Festa da Música Popular de Osasco, onde recebeu o carinho de todos. O evento terminou com uma singela confraternização socialista, a cara dele. Com minha netinha fui levá-lo em casa. Ao se despedir fez carinho na menininha, cansada e com cara de poucos amigos, dizendo: “Só vou embora se me der um sorriso. E ela deu! É a última lembrança que quero guardar, dele, em meu coração”.

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Gostava da confraternização, das brincadeiras, do “sarro” entre amigos (eu que o diga), e aceitava com bom humor ser motivo de chacotas, particularmente as que eu fazia sobre a sua idade “provecta”, muiiiiito maior que a minha.

Nos movimentos dos quais participávamos, sempre tinha o “mé” pós reunião (afinal, ninguém é de ferro!). Seja no grupo das sextas (professores do Unifieo que se reuniam após as aulas), seja após reunião no Sindicato dos Metalúrgicos do 1968 + 50, seja pós reunião da FBP-OM, no Sindicato dos Comerciários.

Agora, nestes encontros, sempre vou dizer com o poeta: “naquela mesa está faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim!”

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*Antônio Carlos Roxo, doutor pela USP, professor visitante da Unifesp-Osasco e analista do Seade

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