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O interminável luto das famílias atingidas pela covid

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cemitério osasco
Foto: Filipe Nunes

Vivemos hoje a maior crise de saúde da história recente do mundo. Milhões de pessoas perderam a vida e mais de 121 milhões foram contaminadas pelo coronavírus. Esse panorama provocou uma recessão econômica e vem afetando a saúde mental das pessoas em todo o mundo. Além de todos esses efeitos, a pandemia está mudando a forma de as pessoas vivenciarem o luto em família. O processo, que já é longo, se arrasta por ainda mais tempo. E a falta do calor humano de abraços e afagos torna o luto ainda mais sofrido, diz Alexandre Garrett, psicólogo especializado em Crises e Emergências e PhD em Ciência da Informação pela Universidade de Paris.

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Perder um ente querido nunca é fácil, mas os familiares das vítimas da covid-19 têm enfrentado um processo de luto ainda mais doloroso e prolongado porque não estão conseguindo se despedir. Por conta de todas as particularidades que envolvem a doença, os pacientes mais graves acabam morrendo sozinhos nos quartos de hospitais. A dor é imensa tanto para quem parte quanto para quem fica. “Ao não acompanhar parentes ou companheiros nos seus momentos finais de vida, cria-se um vazio e um sofrimento muito grande. Obviamente todo luto é doloroso, mas quando você se despede, diz tudo o que sente e oferece um conforto a quem está morrendo, consegue fazer essa passagem de forma menos traumática”, afirma o psicólogo.

O sofrimento e a sensação de impotência para quem perde alguém importante para essa doença são muito maiores, diz o especialista. “É uma perda em dobro, porque a pessoa não teve a chance de se despedir e nem vai conseguir contar com o apoio dos amigos e da família para superar um momento tão trágico, já que o isolamento e distanciamento social são imposições tão necessárias neste momento em que estamos vivendo”, completa.

alexandre Garrett
“Ao não acompanhar parentes ou companheiros nos seus momentos finais de vida, cria-se um vazio e um sofrimento muito grande”, diz o psicólogo Alexandre Garrett

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O psicólogo explica que o processo do luto já é longo, mas em meio a uma pandemia, ele se arrasta por mais tempo, prolongando o sofrimento. “Sem poder contar com momentos de lazer, com os amigos e sem poder receber um abraço, vivenciar o luto fica ainda mais difícil. Vai demorar muito mais tempo para a pessoa lembrar sem sofrer de quem partiu”, diz.

Outra dificuldade que amplifica a dor de perder alguém em tempos de pandemia é a impossibilidade de realizar os rituais pós-morte, como velório e enterro, com a presença física de amigos e parentes. “Os encontros virtuais podem ser uma opção para o ritual de despedida, tão fundamental para ajudar no processo de luto”, observa o psicólogo.

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Segundo Garrett, se as imposições sanitárias não permitem os encontros presenciais, é fundamental manter contato com amigos e parentes de forma virtual. “As videochamadas são a alternativa para nos aproximarmos de quem nos é importante. E quando estamos atravessando o processo de luto, é fundamental esse contato”, acrescenta. Além disso, diz o especialista, procurar ajuda profissional é a forma mais eficaz de encarar o luto. “O trabalho dos psicólogos é ainda mais relevante em momentos de crise como o que vivemos e se faz necessário para ajudar as pessoas a conviverem com a dor de forma saudável e voltarem a viver”, finaliza Garrett.

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