A pauta do acompanhamento do programa “Mais Médicos” permeava as reuniões da redação do Visão Oeste há algum tempo. O resultado, publicado nesta edição, mostra o tema pelo seu aspecto mais positivo: o impacto no dia-a-dia de famílias que penavam para conseguir uma consulta.
O Mais Médicos representa finalmente uma esperança de reduzir esse drama. Reduzir, é fato, mas não solucionar de uma vez por todas uma questão tão complexa quanto a operacionalização deste que é considerado o maior serviço de saúde pública do planeta, o SUS – Sistema Único de Saúde.
A ausência dos profissionais nos postos de trabalho deve ser discutida
Há contudo um aspecto preocupante que, conforme avança a implantação do programa, vai tomando menor proporção. Um tabu que faz com que nenhum gestor público admita publicamente o fato. E as entidades de classe dos profissionais – que tão prontamente condenaram o Mais Médicos – fingem que não existe ou trata-se de questão menor: a sistemática ausência de profissionais nos postos de trabalho, nos horários em que deveriam estar de serviço.
Nesta semana, repercutiu na imprensa e nas redes sociais a prisão de um médico em Cascavel (PR) pela prática. Meses atrás já tinha ficado notório também o caso dos dedos de silicone usados para forjar digitais no ponto eletrônico de médicos em Ferraz de Vasconcelos, interior de São Paulo. E estes são apenas dois dos casos mais conhecidos.
Enquanto isso, os administradores das unidades oficialmente se calam; os gestores reclamam, em voz baixa e pelos corredores, de não poderem exigir muito. E, em geral, os profissionais queixam-se – muitas vezes com razão – de baixos salários e falta de estrutura.
Resta torcer para que o tabu vire lenda e, para a população, fique apenas a lembrança de um passado triste de impotência e impunidade.
