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Artigo – O médico cubano negro e a intolerância da nossa elite branca

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Renato Rovai*

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A foto que está circulando hoje pela internet de um médico negro de Cuba sendo vaiado por jovens brancas de jaleco branco em Fortaleza é ilustrativa do significado da insana luta a que se dispuseram muitos de nossos doutores. Eles não estão lutando pela saúde da população, mas pelos seus interesses mais mesquinhos.

medicos-cubanos-brasil-1E por isso não aceitam que um negrão cubano, que se brasileiro fosse serviria pra catar suas latas de lixo num caminhão de coleta ou ainda carregar fardos de carga num armazém, venha para o Brasil ocupar um espaço que, inclusive, ele não deseja.

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Boa parte da argumentação dos médicos que têm radicalizado no discurso xenófobo contra os que aceitaram trabalhar nos cantões do Brasil é a de que eles estudaram muito para conseguir passar num vestibular. E que os estrangeiros não. Que eles pagaram caro pelo curso. E que os estrangeiros não. Que eles investiram na carreira para ter retorno futuro.

E que com a vinda dos estrangeiros isso está em risco. Este argumento final é o verdadeiro x da questão. Boa parte dos nossos médicos decidiram ser médicos para permanecer num patamar restrito da elite. Mas talvez não se deem conta de que esse corporativismo é a base da morte de milhares de brasileiros pobres e miseráveis.

Eles não são contra apenas os médicos estrangeiros ou de Cuba, mais especificamente. Eles também são contra a criação de novas faculdades de medicina. Os conselhos vivem desqualificando as iniciativas do governo pra criar novos cursos.

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Ou seja, a foto que está ilustrando este post é significativa para pensar o país que queremos. Se queremos um Brasil da inclusão, onde seja algo normal ser atendido por médicos negros que não sejam cubanos. Se queremos um Brasil onde estrangeiros sejam recebidos com respeito.

Se queremos um Brasil onde saúde seja um direito de todos. Ou se preferimos viver num país de brancos de jalecos brancos que exigem ser chamado de doutores exatamente porque se acham acima daqueles que deveriam tratar com respeito e dignidade.

O interesse de uma corporação não pode estar acima dos interesses de toda a sociedade. E os médicos que estão nas ruas vaiando os seus colegas cubanos nunca estiveram nas ruas lutando por melhorias na área da saúde. Os que estiveram e estão nesta luta por um sistema único de qualidade, por exemplo, não se dignam a participar de um papelão desses.

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Essa foto fica pra história, como a daquelas dos navios negreiros. Mas neste caso, pelo seu inverso. Porque negros de Cuba aceitaram vir pra cá contribuir pra melhorar a vida de outros negros e brancos pobres.

E foram açoitados pelas vaias de brancos e brancas que se lixam pra vida dessa enorme parcela da população. Porque eles são da Casa Grande. E a Casa Grande sempre se locupletou com a péssima qualidade de vida da senzala.

* Renato Rovai é diretor do Visão Oeste e editor da Revista Fórum. Publicado originalmente no Blog do Rovai

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3 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns! Renato por seu COMENTÁRIO! tenho certeza que a luta de classe sempre TEVE! mas agora ela começa a aparecer mais as CLARAS! Sabe porque?? Porque o Brasil está crescendo na distribuição de renda, inclusão social, no desenvolvimento, o Brasil caminha para uma nação, e é neste contexto que os embates sociais, econômicos, culturais e ideológicos que iram aparecer, e essa elite tem MEDO!!!! eu já te ho meu lado nessa disputa e vou trabalhar para trazer vários brasileiros para entender o lado que QUEREMOS!!!!! Vamos a LUTA!!!!! Um forte abraço

  2. Que saudade do Cazuza

    Burguesia

    A burguesia fede
    A burguesia quer ficar rica
    Enquanto houver burguesia
    Não vai haver poesia

  3. Correção. Intolerantes estes médicos brasileiros eram quando se recusavam a aceitar a vinda de médicos estrangeiros para trabalhar em postos que eles recusaram. Agora eles passaram a agir como CRIMINOSOS porque atacam verbalmente os cubanos em razão de sua naturalidade, cor ou feiura facial.

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