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“O que me move é a dor, a saudade”

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Sandra Moreno é idealizadora de projeto de lei popular pela pessoa desaparecida / Foto: Eduardo Metroviche
Sandra Moreno é idealizadora de projeto de lei popular pela pessoa desaparecida / Foto: Eduardo Metroviche

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Leandro Conceição

Era um sábado, 3 de outubro de 2009, por volta de 5h30, no Jardim das Belezas, região central de Carapicuíba. A jovem Ana Paula Moreno, de 23 anos, se despede da mãe, Sandra Moreno, e sai de casa rumo ao trabalho, em uma gráfica em Alphaville, Barueri. Ana Paula nunca mais foi vista e não há mais nenhum rastro do paradeiro dela.

“Meu coração de mãe tem certeza que ela está viva”

Quatro anos depois, Sandra Moreno, 50, continua seu calvário em busca de pistas do desaparecimento da filha. “O que me move é a dor, a saudade. Passo por cima de tudo. Já fui a tudo que é lugar, em muitas cidades, à cracolândia, a bordéis. Já fui reconhecer muito corpo. Mas meu coração de mãe tem certeza que ela está viva. Para mim, ela foi raptada por um esquema de tráfico de pessoas”.

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Sandra já conseguiu na ilegalidade, por R$ 5 mil, a quebra do sigilo telefônico da filha. Também contratou um hacker para invadir o computador da filha. “A polícia nunca nem perguntou de nada disso. Vi tudo e não encontrei nada suspeito”.

Após sentir na pele a falta de ações da polícia e de amparo do Estado na questão das pessoas desaparecidas, ela é idealizadora de um projeto de lei de iniciativa popular pela pessoa desaparecida no país.
“Hoje o poder público é omisso nessa questão. A polícia, por exemplo, não trabalha porque desaparecimento não é considerado crime. E eles não estão preparados, dizem uma série de coisas, que você não conhece sua filha de verdade, embutem a culpa nos pais”, protesta.
Outro entrave é a morosidade da Justiça. “A quebra de sigilo telefônico da minha filha até hoje não foi concedida. Paguei R$ 5 mil na ilegalidade para conseguir ouvir os telefonemas dela e não havia nada suspeito”.

1,4 milhão de assinaturas

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O projeto de iniciativa popular precisa colher cerca de 1,4 milhão de assinaturas para ser encaminhado ao Congresso. Desde o fim do ano passado, foram colhidas 9,2 mil assinaturas, pelo site abaixoassinadobrasil.com.br/site/assine.

O texto do projeto prevê, entre outros itens: criação de delegacias especializadas em casos de desaparecimento, aprimoramento e atualização constante do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas, integração interestadual de registros de desaparecimentos e acompanhamento social e psicológico das famílias dos desaparecidos.
“É uma coisa que mexe muito com toda a família. Meu filho colocou cadeado no quarto da Ana Paula porque eu entrava lá e parecia que ia morrer. Minha outra filha criou uma história de desencontros. Ela fala: ‘poxa, hoje vou ter que jantar sozinha porque a Ana já foi dormir’”.

Famílias pressionam municípios

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Os familiares de pessoas desaparecidas na região também fazem pressão para que as cidades também atuem na questão. No fim de agosto, foi realizada audiência pública sobre pessoas desaparecidas em Carapicuíba. De acordo com a Delegacia Seccional, entre 2011 e 2013 desapareceram 764 pessoas no município e foram encontradas 381.
Estão sendo articuladas audiências públicas sobre o tema também em Osasco e Barueri. Ainda não há dados concretos no Brasil sobre o número de desaparecidos no país. Estimativas apontam para entre 40 mil e 50 mil por ano.

“Não há sequer um número real de desaparecidos. Temos estatísticas que mostram há mais de uma década que cerca de 204 mil pessoas estão desaparecidas. Este número é bem maior. Pessoas desaparecidas não votam. Por isso existe este descaso, este abandono”, disse na audiência em Carapicuíba Ivanise Esperidião da Silva, da ONG Mães da Sé.

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