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Opinião – Falta de água é questão de incompetência

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Flaudio Azevedo Limas (PT) é vice-prefeito de Itapevi e diretor estadual da Apeoesp

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No momento em que o Estado de São Paulo sofre com a maior crise hídrica da história, fica fácil responsabilizar São Pedro – popular santo católico com alegada jurisprudência divina sobre o clima – pela falta d’água. No entanto, a questão é principalmente administrativa.

Por falta de planejamento do governo estadual, gerido pelo tucano Geraldo Alckmin, o Estado deve, infelizmente, amargar crises ainda maiores em decorrência da falta d’água, como desaquecimento da economia local, desemprego, problemas de saúde e limpeza públicas, degradação ainda maior do meio ambiente, falta de energia elétrica e muitos outros, como manifestações populares. Caso como este já aconteceu em Itu, com a participação de aproximadamente dois mil moradores e a intervenção da polícia que entrou em confronto com manifestantes em setembro do ano passado.

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Desemprego e problemas em diversas atividades econômicas já atingem cidades e empresas na bacia dos rios Piracicaba, Jundiaí e Capivari e na região metropolitana de São Paulo. Na capital paulista, restaurantes, segundo matéria publicada na semana passada pelo UOL, são obrigados a fechar as portas mais cedo, mesmo tendo clientes para atender.

A crise é resultado da inoperância do governo estadual, que permitiu a partir de 2004 a retirada de cerca de 36 mil litros de água por segundo da bacia do Piracicaba, a maior parte destinada à Grande São Paulo.

Em matéria publicada no Blog do Planeta, da Revista Época, em junho de 2014, Antonio Carlos Zuffo, hidrólogo da Unicamp, afirma que esse volume de extração supera o recomendável para a capacidade das represas. “Quando a outorga foi renovada, o governo subiu o volume de litros que poderia ser retirado com a condição de que fossem feitas mais obras para aumentar a capacidade de armazenamento das represas. E elas não ocorreram no ritmo previsto”, afirma.

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De acordo com o doutor em planejamento urbano e professor da Universidade Federal da São Carlos (Ufscar), Marcelo Vargas, em entrevista concedida em outubro de 2014 ao jornal Zero Hora, “a Sabesp deveria ter investido em novos sistemas de produção de água potável que captassem água de outros mananciais regionais, para diminuir sua dependência do Sistema Cantareira, como estava previsto desde 2004, quando foi renovada a licença federal que a companhia estadual de saneamento obteve em 1974 para construir e operar o sistema, que lhe permite retirar até 31m³ por segundo”.

A estiagem de chuvas para este período já estava prevista. No entanto, Governo do Estado e Sabesp pouco ou praticamente nada fizeram para evitar o pior. Estima-se que cerca de 33% da água tratada pela Sabesp é perdida em tubulações mal implantadas e geridas pela concessionária de água.

Marcelo Vargas ressaltou um dado importante em sua entrevista ao Zero Hora: a Sabesp e outros órgãos estaduais fizeram diversos estudos de diferentes alternativas, mas há apenas um sistema produtor de água potável sendo construído, o Sistema São Lourenço, que capta água no Vale do Ribeira (sul de SP), e cujas obras estão atrasadas e só devem ser concluídas em 2016.

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Para piorar a situação, ao longo destes 11 anos, Sabesp e Estado investiram pouco em conscientização quanto ao uso racional da água e passou a tomar iniciativas apenas quando a crise estava se agravando, em 2014.

O sociólogo Pedro Roberto Jacobi, que coordena um grupo de pesquisa sobre governança de recursos naturais na Universidade de São Paulo (USP), afirmou que “não interessa que esta seja a pior seca dos últimos 84 anos. O governo falhou nas ações preventivas. Desde 2004, há indicativos da necessidade de se reduzir a dependência da região metropolitana do Sistema Cantareira, e isso não aconteceu.”

Cabe a nós, economizar ainda mais este bem precioso e essencial para vida humana, a água. Converse com os familiares, vizinhos, no trabalho, na escola sobre a real crise que estamos enfrentando. E, tendo disponibilidade, reserve água da chuva para limpeza da casa. Certamente será de grande importância nos próximos meses.

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