Um aspecto marcante da crise de relação que vivem o governo federal e o Congresso Nacional é justamente o que mais prejuízo pode trazer à sociedade e ao futuro do país: a questão da responsabilidade. Quando o que está norteando as discussões e decisões é a política rasa, superficial, a primeira vítima é o compromisso com o cidadão. Tanto pior se essa política baixa for também exercida com o fígado. Porque além de destruir o futuro, desconstrói as ferramentas para a manutenção do diálogo e a possibilidade de criação de caminhos alternativos, que salvaguardem as instituições e as relações institucionais.
O fim do fator previdenciário devia ser uma ótima notícia
A política rasteira faz até mesmo notícias boas virarem condições indigestas. A aprovação, na surdina, do fim do fator previdenciário, na forma como proposto pela maioria do Congresso, é um exemplo isso. Devia ser uma ótima notícia, pautada em alternativas bem delineadas e discutidas com o conjunto do movimento sindical, da sociedade civil e à luz da necessidade de garantir o financiamento da aposentadoria das futuras gerações. Isso seria responsabilidade.
Mas aprovado como forma de imprimir uma derrota política ao governo, pelo mesmo Congresso que no episódio da terceirização já havia demonstrado não estar em ai para os interesses da classe trabalhadora, isso torna a boa notícia em uma notícia preocupante.
Independente do futuro do fator previdenciário, da terceirização, e qualquer outro projeto polêmico e visceral para o futuro da sociedade brasileira que venha a ser colocado em votação no Congresso Nacional, está claro que nunca foi tão importante que os eleitores mantenham a vigilância e a cobrança sobre os deputados que elegeram, não apenas para fazerem as escolhas certas, mas visando também atingir objetivos mais nobres.
