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Programa garante cuidados médicos à população de rua em Osasco

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Foto: Ítalo Cardoso

Às vezes são necessárias semanas, meses, até que ocorra o engajamento. Mas com uma boa conversa e aconselhamentos sobre a importância de cuidados com o corpo, aos poucos a equipe do Consultório na Rua de Osasco, serviço mantido pela Prefeitura de Osasco, por meio da Secretaria da Saúde, convence a população de rua a se deixar atender no programa de atenção básica do município.

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Como o próprio nome sugere, o atendimento é feito nas ruas. Além da troca de curativos no tratamento de feridas, os agentes fazem vacinação, marcam consultas (médicas e odontológicas), exames e acompanham o pré-natal.

“Nem sempre é fácil se aproximar. Alguns são muito receosos, mas depois que ganham nossa confiança, concordam em receber o atendimento”, resume a enfermeira e gestora de núcleo do programa, Carmem Guedes.

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A insistência, aponta Carmem, é o segredo. “Ficamos quase um ano nos aproximando do senhor Toninho. Ano passado, ele estava muito debilitado por causa de uma úlcera de varicocele na perna (feridas que não cicatrizam, causadas pela má circulação)”, disse, enquanto a equipe fazia curativos no paciente, que há anos escolheu a Rua Padre Damaso, no Centro, para “morar”.

Diariamente, a equipe de 12 profissionais – enfermeira, terapeuta ocupacional e agentes comunitários de saúde – sai às ruas para realizar os atendimentos e, quando necessário, fazer encaminhamentos às unidades de saúde.

Segundo a gestora, a cidade tem atualmente cerca de 300 moradores/pessoas em situação de vulnerabilidade nas ruas, sendo que 40 deles precisam de cuidados. Todos os atendidos pelo programa são cadastrados para que haja o controle e acompanhamento dos casos de cada paciente.

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Criado em 2011 pelo Ministério da Saúde com o nome “Consultório de Rua”, inserido no programa “Craque, é possível Vencer”, o atendimento era restrito à saúde mental. Em 2013, foi ampliado e passou a prestar integralmente os serviços da atenção básica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e mudou o nome para “Consultório na Rua”.

Com a ampliação do serviço, a portaria 940/2011 do Ministério da Saúde assegurou a moradores de rua, nômades e ciganos o direito a atendimento ambulatorial nas unidades de saúde sem a necessidade de apresentação de documentos ou comprovante de endereço.

O programa é nacional – regulamentado pelas portarias 122 e 123 do Ministério da Saúde e inserido na Política Nacional de Atenção Básica – e conta com 165 equipes espalhadas pelo Brasil. Na capital paulista, são 30 equipes. Na região Oeste da Grande São Paulo, apenas Osasco, Barueri e Embu das Artes contam com o serviço, segundo Carmem.

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Mobilização 

O azulejista Josué Firmino dos Santos, 40 anos, inicialmente se mostrou reticente, mas agora até ajuda a equipe a mobilizar outras pessoas em situação de rua quando o assunto é cuidar da saúde. “Hoje tenho consciência de que, por estarmos na rua, ficamos expostos a doenças. É um serviço importante para nós. É vida salvando vida. Os agentes me avisam alguns dias antes quem tem consulta marcada, aí ajudo a mobilizar”.

Aposentado em razão de sequelas de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), Santos afirma que está nas ruas há oito por causa de “conflitos familiares”.

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Nos dias de consultas, os pacientes são levados às unidades de saúde em um veículo usado no programa. Em casos de emergência, os munícipes podem auxiliar no socorro à população de rua pelos telefones 192 (SAMU) ou 156.