Início Opinião Sergio Mauro – Sobre a natureza do escândalo de corrupção

Sergio Mauro – Sobre a natureza do escândalo de corrupção

Sergio Mauro, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp

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Sergio Mauro - Sobre a natureza do escândalo de corrupção

Por que tantas denúncias seguidas de corrupção? Por que tantas idas e vindas, renúncias e novas escolhas de ministros? Se observarmos bem, sobretudo nos últimos dez anos, nunca se denunciou tanto e nunca foi tão difícil mudar os rumos do país e finalmente conduzi-lo ao desenvolvimento e à convivência harmoniosa e civilizada entre os cidadãos. Por quê?

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As respostas, nada conclusivas e não definitivas, deveriam ser procuradas na própria raiz da democracia. Protestar e insultar políticos, se não for seguido de atitudes concretas e operativas, equivale a xingar o juiz nos campos de futebol.

Trata-se apenas de um desabafo que normalmente só interessa aos que detêm o poder, habituados a esperar a calmaria que normalmente se segue à gritaria, ou ao assentamento da poeira depois do vendaval.

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Que ninguém se iluda: os protestos nas ruas e os desabafos nas redes sociais, por si só, não levam a lugar algum, dando apenas a ilusória sensação de que estamos comandando os rumos da nação ou de que estamos derrubando os muros que separam os cidadãos comuns dos “especiais”.

A revogação da prisão de Garotinho, depois do espetáculo bizarro repetidas vezes mostrado pela televisão em que o ex-governador do Rio parecia estar ensaiando uma paródia da atriz Linda Blair em “O Exorcista”, corrobora as afirmações do parágrafo anterior.

O que de concreto vai mudar após a prisão inédita e simultânea de dois ex-governadores de um mesmo estado brasileiro? Nada, ou quase nada. A tendência é o esquecimento, como se o espetáculo midiático fosse um intenso prazer, um gozo, mas depois sobrevém o torpor ou quase uma sensação de enjoo ou nojo.

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*Sergio Mauro, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp.