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Opinião: “A Vida Depois do Tombo” de Karol Conká é desconfortável

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Divulgação

Por Leandro Conceição – editor do Visão Oeste

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Apenas dois meses depois de ser eliminada do BBB 21 com recorde de rejeição, 99,17% dos votos, Karol Conká é tema da série documental “A Vida Depois do Tombo”, que estreou nesta quinta-feira (29), na plataforma de streaming Globoplay.

Críticos da cantora acusaram a Globo de querer aliviar a barra, “passar pano”, para a artista após a alta rejeição gerada pela conturbada passagem dela pela casa mais vigiada do Brasil. A suspeita se justifica, claro. Mas, independente e muito além disso, trata-se de uma história interessante de se ver retratada.

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Imagine o baque sofrido ao descer do pedestal com rejeição absoluta, se tornar praticamente a pessoa mais detestada do país, lidar com seus demônios, ter milhões de dedos apontados para si e rememorando ações das quais você provavelmente se arrepende e ter de tentar dar a volta por cima e recuperar uma carreira.

É desconfortável acompanhar Karol Conká forçada a lidar com as consequências de suas atitudes reprovadas pelo grande público.

A série aborda a dura trajetória pessoal da artista, negra, da periferia, mulher que conquistou um espaço no rap, ainda dominado por homens; a dor dos conflitos com o pai, vítima do alcoolismo. Mas não força a mão em buscar justificar as atitudes repudiadas da cantora pelas dificuldades de sua história.

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“A Vida Depois do Tombo” retrata que os conflitos de Karol Conká vão muito além do BBB 21 e são quase uma constante na vida da artista. Diversas músicas de sucesso dela, inclusive “Tombei”, sua marca registrada, não puderam ser usadas na série documental por brigas judiciais com parceiros das obras.

Uma ex-produtora de Flora Matos, cantora rival da ex-BBB, deixa claro que ela mentiu no programa sobre um atrito entre as duas artistas. Diz, inclusive, que Karol Conká teria mudado de postura ao começar a ter sucesso depois de ter sido ajudada pela hoje rival quando estava em início de carreira. O documentário mostra ainda artistas e produtores que citam um suposto estrelismo exacerbado de Karol, conforme boatos que já rolam de muito antes da tumultuada passagem dela pelo programa.

Uma obra para meramente “passar pano”, como acusam os críticos, jamais mostraria que, dias depois que ela saiu do BBB 21, antes de entrevista no “Domingão do Faustão”, ainda achava que não teve relação com a saída do Lucas Penteado da casa e que o episódio no qual o expulsou da mesa do almoço “não teve nada a ver”.

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Em muitos momentos dá vergonha alheia acompanhar a artista se deparando mais e mais com suas atitudes reprováveis e tentando se desculpar, pedindo perdão, se deparando com a negativa de ex-participantes que tiveram atritos com ela na casa em reencontrá-la no documentário. É “cringe”, mas não é engraçado, como as cenas de Michael Scott e companhia em “The Office”. É desconfortável demais.

É natural que Karol Conká possa buscar reconhecer os erros, pedir desculpas e retomar a carreira. Assim como muitos fãs continuarem decepcionados com as ações da artista e críticos desconfiados de que tudo é da boca pra fora.

Talvez, antes de protagonizar uma série documental às pressas, em meio a apenas dois meses de turbulência, sob o risco de voltar a encarar enorme rejeição, Karol Conká precisasse protagonizar sessões de terapia.

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