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Fisioterapeutas relatam batalha para salvar vidas da covid-19 em Osasco e região

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fisioterapeutas atalha para salvar vidas em Osasco e região
Taís Ribeiro e Fernanda Medina, profissionais que atuam na fisioterapia hospitalar / Fotos: Arquivo Pessoal

Rotinas exaustivas, noites sem dormir, plantões seguidos, óbitos e o medo são alguns dos desafios diários dos profissionais que atuam na linha de frente do combate à covid-19. Nesse cenário, a fisioterapia, assim como tantas especialidades, tem sido uma aliada importante para ajudar a salvar vidas. Para mostrar essa realidade com o olhar do profissional da área, o Visão Oeste conversou com duas fisioterapeutas que trabalham em hospitais de Osasco e região.

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Taís Ribeiro, de 23 anos, tem uma clínica de fisioterapia geral na Granja Viana, em Cotia, e divide a rotina em seu consultório com os plantões em um hospital particular em Osasco, onde atua na fisioterapia hospitalar voltada à covid-19. Essa especialidade atende desde os pacientes da enfermaria até os casos mais críticos, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Nós auxiliamos em todo o processo para evitar complicações cardiorrespiratórias, além de ajudar na recuperação da capacidade pulmonar desses pacientes. Nos casos mais graves, cuidamos da administração do oxigênio. Também trabalhamos com exercícios para fortalecer a parte motora dessas pessoas que, infelizmente, ficam com sequelas. A maioria delas fica”, explica a profissional.

Já a fisioterapeuta Fernanda Medina Lima, que também atua na fisioterapia hospitalar, trabalha na ala da enfermaria pós-covid de um hospital particular na Granja Viana. Ela atende pacientes que já passaram da fase crítica da doença, respondem bem ao tratamento, não apresentam risco de transmitir o vírus e caminham para o “desmame” do oxigênio, quando voltam a respirar sozinhos. “Acompanho de perto a evolução de cada paciente. Através do oxímetro, verifico a saturação a todo momento e, quando começam a caminhar sem sentir cansaço e passam a apresentar outros resultados positivos, o médico já pensa em uma alta”, destaca.

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Para ambas as profissionais, a rotina exaustiva vem acompanhada pelo medo, sentimento indesejado que começa no momento em que acordam e se estende até a hora de dormir, quando dormem. Para Taís o desafio é ainda maior por ser do grupo de risco da doença, o que não a impediu de exercer a profissão. “Quando coloco toda a paramentação para atender, não sei o que me espera. Tenho a sensação de que o medo caminha comigo e que venço isso todos os dias porque mesmo estando hoje vacinada, não deixo de ser do grupo de risco. Sou cardiopata, sou hipertensa e trabalho diariamente de cara com o vírus. Como se ele fosse o meu maior inimigo e eu lutasse contra isso todos os dias”, desabafa, sem hesitar ao fazer o seu melhor para continuar salvando vidas.

O profissionalismo e as técnicas usadas diariamente não anulam o lado humano e sensível que existe em cada uma. “Mesmo quando estão sob o efeito de medicação, acredito que podem sentir o nosso carinho, afeto e dedicação. Por isso, sempre ofereço os melhores sentimentos e o melhor para cada um deles! A cada paciente que atendo, o entendo como único. Particularmente, não existe paciente do leito 1 e paciente do leito 2. Existe o João do leito 1, a Maria do leito 2. Até me emociono ao falar sobre isso”, descreve Fernanda.

As fisioterapeutas reforçam ainda que o alerta feito por muitos especialistas em todo o mundo sobre a covid-19 não escolher a idade de suas vítimas, principalmente na segunda onda da pandemia, é uma realidade. Na região, a rede de saúde pública e privada chegou a beirar o colapso em março. Hospitais de Osasco, Barueri, Carapicuíba e Itapevi, por exemplo, chegaram a funcionar com a capacidade máxima de ocupação das UTIs, que tiveram muitos dos seus leitos ocupados por jovens e crianças.

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“Quando comecei a trabalhar com covid-19, a maioria dos pacientes era idosos. Hoje é muito diferente. Não tem uma faixa etária específica, são pacientes de todas as idades. Então, atendo adultos, idosos e até mulheres grávidas, que acabam tendo a gestação interrompida pelo vírus”, declara Taís. A afirmação também é reforçada por Fernanda: “As idades dos pacientes estão muito variadas, infelizmente, a covid-19 não está escolhendo o mais jovem, nem o mais idoso”.

Ainda no mês passado, o prefeito de Osasco, Rogério Lins (Podemos) demonstrou preocupação com a mudança no perfil dos infectados pelo vírus. De acordo com Lins, grande parte dos internados com a doença em 2020 era de idosos acima de 60 anos. Já nesse ano, a maioria dos leitos têm sido ocupada por pessoas entre 25 e 60 anos, como o Edson, de 43 anos, e o Gesley, 25, que conseguiram vencer a batalha contra a covid-19. “Graças a Deus e ao trabalho da equipe da saúde, tiveram alta, mas infelizmente nem sempre essa história tem um final feliz”, declarou o prefeito na ocasião.

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Em Osasco, maioria dos pacientes internados com covid-19 em 2021 tem entre 25 e 60 anos, diz prefeito / Foto: Reprodução

“‘Ele está respirando por aparelhos’ é uma frase que define a fisioterapia hospitalar”, diz profissional

As fisioterapeutas Taís Ribeiro e Fernanda Medina Lima acreditam que é como um renascimento quando os infectados pela covid passam por uma internação e se recuperam. As profissionais explicam ainda a importância da fisioterapia nesse processo de recuperação tanto pulmonar, como motora.

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“Tem uma frase que resume tudo relacionado à fisioterapia hospitalar ‘Ele está respirando por aparelhos’. Essa frase define tudo porque sou eu que estou ali controlando toda a respiração desse paciente que está intubado, que está precisando de suporte ventilatório. Somos nós, fisioterapeutas, que ficamos ali 24 horas ofertando o melhor para que ele não venha a óbito. Nós avaliamos, utilizamos todos os recursos e manobras para evitar complicações futuras, porém, infelizmente, alguns pacientes ficam com sequelas”, explica Taís.

coronavírus Osasco
/ Foto: Marcelo Deck

De acordo com as profissionais, a recuperação, o pós-covid, varia em cada caso. Essa particularidade acontece devido a alguns fatores como idade do paciente, presença de comorbidades ou não, e gravidade das sequelas. “No modo geral, é de extrema importância ter um acompanhamento com um fisioterapeuta porque nós trabalhamos toda a recuperação de funcionalidade desse paciente”, afirma Taís.

Geraldo Luís, que travou uma grande batalha contra o vírus no mês passado contou que perdeu os movimentos da perna direita e que a fisioterapia tem sido uma verdadeira aliada em sua recuperação. O apresentador, que mora em Alphaville, bairro nobre entre Barueri e Santana de Parnaíba, ficou 22 dias internado, dos quais 10 dias foram na UTI e chegou a ficar com 70% do pulmão comprometido. Nas redes sociais, ele tem compartilhado sua recuperação e fez relatos emocionantes sobre sua luta contra a doença.

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Especialistas afirmam que muitos dos que superam a doença acabam precisando lidar com algumas consequências, chamada de Síndrome Pós-Covid, que se apresenta com sintomas como cansaço, falta de ar, dor muscular, dores nas articulações, no peito, problemas circulatórios e até fibrose pulmonar, relacionada ao trato respiratório e que causa tosse crônica, fadiga e dificuldade para respirar.

Para auxiliar na recuperação desses pacientes, a Faculdade Anhanguera de Osasco passou a oferecer atendimento, por meio do projeto “Liga de Reabilitação Pós Covid-19”, mediante agendamento prévio. Os serviços são realizados por estudantes dos cursos de Fisioterapia e Educação Física da instituição, que avaliam individualmente o caso de cada paciente.

Quem apresentar tais sintomas após vencer o novo coronavírus também pode procurar o consultório da Taís Ribeiro, que oferece serviços de fisioterapia em geral e pós-covid-19. Os atendimentos também são realizados exclusivamente com hora marcada. Para consultar valores ou obter mais informações, basta entrar em contato via WhatsApp (11) 97784-9670.

Taís atende em seu consultório, mediante horário marcado / Foto: Arquivo Pessoal

“A covid não é uma brincadeira. E nós, profissionais da saúde, estamos esgotados”

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Em pouco mais de um ano de pandemia, mais de 3 milhões de pessoas morreram em todo o mundo em decorrência da covid-19. No Brasil, o número de óbitos ultrapassa a marca dos 395 mil. Mais de 93 mil vidas foram perdidas em decorrência da doença em todo o estado de São Paulo até esta terça-feira (27).

Já a cidade de Osasco registra 1.720 mortes pelo novo coronavírus, de acordo com o último boletim divulgado pela administração municipal. Perder um paciente para a covid-19 é uma das experiências mais tristes e desoladoras para as fisioterapeutas. “O primeiro óbito me marcou muito, e naquele momento, a minha mente ficou fixada nos familiares. Como será que vão reagir? Como será a vida deles sem essa pessoa? Será que tem filhos? É casado? A família não o verá mais abrir a porta e chegar em casa… Isso dói”, relata Fernanda.

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Fisioterapeuta Fernanda Medina / Foto: Arquivo Pessoal

“Nessa última semana, a situação que mais mexeu comigo psicologicamente, como ser humano mesmo, foi perder uma família inteira para o vírus: pai, mãe, filho e filha”, lamentou Taís, que destacou a missão de salvar vidas como o seu maior desafio. “É quase impossível chegar ao final do plantão e não estar exausta. Também é muito desafiador terminar esse mesmo plantão sem ter perdido alguém”, completou.

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A exaustão física e psicológica é tão real quanto os óbitos. “Nós, profissionais da área da saúde, estamos esgotados! São plantões de 24 horas, 12 horas e algumas extras. Então, aproveito para fazer um apelo e dizer que a covid não é uma brincadeira. Se cuidem, usem a máscara corretamente, não fiquem tocando nela, usem álcool em gel, fiquem em casa se for possível, por vocês e por nós, que dedicamos a nossa vida para salvar outras vidas”, finaliza Medina.