Vivemos tempos bem estranhos. Há uma grande crise política no país, prolongada como uma espécie de 3º turno das eleições de 2014, e alimentada por uma mega operação de combate à corrupção, a Lava Jato. Esta, de fato, está apontando supostos mal feitos de empresários e nomes graúdos da política brasileira. E embora na lista de nomes não constem a presidente Dilma Rousseff ou o ex-presidente Lula, ao contrário do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os dois há bastante tempo são o tema preferido da maioria das manchetes dos jornalões e colunistas da grande mídia nas matérias sobre a operação. Cunha, por outro lado, só recentemente virou alvo fixo, sobretudo por seus sucessivos tropeços em explicar suas polpudas contas na Suíça. Ainda assim, continua presidente da Casa, numa manobra que a sinceridade constrangedora do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) entregou: a luta é para manter Cunha, porque assim se mantém a esperança de um processo de impeachment. Isso dito à queima-roupa, mesmo que a própria oposição, representada pelo PSDB, mostre sinais de desgaste na boa relação que vinha mantendo com o parlamentar do PMDB carioca.
Alimentação da crise política ajudou a transformá-la em econômica
Alimentar essa crise política acabou por ajudar a transformá-la também em econômica. E a postura do “quanto pior melhor” se reflete em outras realidades singulares desses tempos atuais. Como o enorme espaço dedicado a uma inexpressiva greve de caminhoneiros cuja única bandeira é a saída de uma presidente legitimamente eleita. O oposto do tratamento, em nota de rodapé, à violência da política – e da polícia – do governador Geraldo Alckmin (PSDB) destinada às crianças e adolescentes que decidiram ocupar suas escolas, em defesa de seu direito de continuarem estudando ali.
Para a comunidade, a ação policial de desocupação é quase certa. Para Cunha, dificilmente virá uma ordem de desocupação do Congresso.