Um aspecto bastante preocupante da atual crise política instaurada no Brasil é a sua componente artificialmente induzida por expressiva parcela da grande mídia. E a conduta desta parcela durante a última quinta-feira, para vergonha do jornalismo sério e responsável, foi um exemplo claro do potencial nefasto desse comportamento. A divulgação do arquivamento do pedido de instauração de inquérito contra o senador Aécio Neves, citado por envolvimento na Operação Lava a Jato, foi amplamente vinculada ao suposto pedido de arquivamento de processo semelhante para Dilma Rousseff.
O jornalismo tem um compromisso com o fato e a verdade
Apenas um veículo de grande circulação esclareceu, ao longo do dia, que nunca houve, por parte do procurador-geral, Rodrigo Janot, um pedido formal de arquivamento sobre a presidente Dilma, pelo simples fato de que ela não era implicada nas delações.
Mesmo assim, praticamente todos os representantes da grande imprensa trataram de vincular os dois rivais políticos, como se estivessem no mesmo pacote de monstruosidades.
Pode soar contraditório apontar isso como um problema, sobretudo em se tratando o Visão Oeste de um veículo que sempre considerou legítimo e ético a um organismo da imprensa privada declarar publicamente preferências eleitorais. Mas é justamente o contrário: primeiro, o jornalismo tem um compromisso com o fato e a verdade. Não importa a preferência. E, segundo, não estamos mais em período eleitoral. No mínimo, a democracia, as instituições, o ordenamento jurídico devem ser respeitados e preservados neste momento de crise. Desejável seria, também, respeitar a ética jornalística. Sob o risco de transformarmos o que se desdobra como reflexo de um escândalo, que ainda está sendo apurado, numa catástrofe econômica e institucional sem precedentes. É um jogo arriscado esse que um grupo poderoso do país está disposto a jogar, na base do “custe o que custar”, em busca de mudança nos rumos — ou melhor dizendo, das mãos — da política brasileira.
