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Construtora teria mandado desovar em Carapicuíba ossadas humanas encontradas em obra em SP

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ossada carapicuíba
Osso encontrado na escavação do terreno; imagem foi anexada aos autos do processo / Foto: reprodução

Da Rede Brasil Atual

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Seis ossadas humanas foram encontradas em uma construção na Vila Mariana, zona sul da cidade de São Paulo. O terreno fica a 150 metros da antiga sede do antigo DOI-Codi, órgão que torturava presos políticos na ditadura civil-militar e que, atualmente, abriga o 36º Distrito Policial (DP). Os funcionários da obra teriam tido ordem para desovar os ossos humanos na área da Lagoa de Carapicuíba.

A Polícia Civil de São Paulo recebeu a denúncia anônima de que funcionários de uma obra de prédios residenciais escavavam o local e encontraram os ossos. Segundo os relatos, os corpos estavam cobertos por um pó branco, similar à cal, e usado para amenizar o mau cheiro durante o processo de decomposição. As informações são de que os ossos encontrados possuem “orifícios provocados por disparos de arma de fogo”.

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Há ainda uma denúncia de que, por ordem superior, os funcionários foram obrigados a desovar os ossos em uma área em Carapicuíba. Segundo o relato, um funcionário confirmou a ordem de juntar as ossadas com terra e entulho da obra e descartá-los na área da Lagoa de Carapicuíba.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a procuradora regional da República e ex-presidenta da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, critica a ordem dada pela construtura. “É muito grave. É chocante a postura de uma empresa privada, ao constatar ossos humanos no terreno, não tomar a providência adequada. Isso mostra um descaso com a vida humana. É uma cegueira para a violência”, disse.

Para a procuradora, é fundamental que seja formada uma força tarefa para encontrar as ossadas. “Pelo o que eu soube, já há um inquérito na Polícia Civil, então deve haver alguma visita técnica. Eu gostaria que peritos independentes fossem convidados, porque a antropologia forense tem um olhar diferente do policial. Tem todo um cuidado com a vida humana e os ossos precisam de um cuidado especial”, explica a procuradora-geral, que não descarta que o descarte tenha sido feito na época da ditadura.

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Reportagem da Ponte Jornalismo diz que a construtora, que fará um prédio com torre única de oito andares e 24 apartamentos, não vai paralisar as obras, já que as ossadas “só causariam interferência se fossem novas, não antigas” como as encontradas. Garantiu ainda que quem já comprou um dos 24 apartamentos do empreendimento não precisa se preocupar, pois o “prédio será lançado na data prevista, no segundo semestre de 2020”.

A ex-presidenta da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos diz que o sentimento das famílias que aguardam por respostas sobre o desaparecimento de seus familiares só aumenta, a cada notícia de que novas ossadas são encontradas. “É um sofrimento a conta-gotas, uma ferida que é sempre cutucada. Ao mesmo tempo que reascende uma esperança, também reacende toda a dor.”

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