É no mínimo contraditório que a denúncia de deposição de lixo a céu aberto, em local irregular, bem na frente de um hospital e ainda por cima realizada pelo próprio poder público, venha de uma prefeitura do Partido Verde, como Jandira. Pior: o governo de Geraldo Teotônio, o prefeito Gê, chocou uma segunda vez a população ao enviar um trator para esparramar o lixão e misturá-lo a um punhado de terra, conferindo-lhe um aspecto visual menos impactante.
Em alguns círculos, isso seria chamado de maquiagem. Em Jandira, é uma solução. Cobrados, nem secretários, nem técnicos, ou o próprio prefeito, foram felizes em explicar a situação. Apenas confundiram os interlocutores com definições pueris de lixo, resíduo sólido e entulho. Enquanto isso, os restos do processo industrial ou do consumo continuam sendo empilhados em frente ao hospital, favorecendo a proliferação de ratos e insetos. Com o punhado de terra agora, talvez possa quase ser chamado de aterro.
“O paliativo não favorece o debate sobre a destinação dos resíduos sólidos”
Ao empurrar a questão para debaixo do tapete, o paliativo nem mesmo favorece o debate visceral para as regiões metropolitanas, que é a destinação dos resíduos sólidos e as implicações da Lei nº 12.305/10. Essa lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), às quais os municípios deveriam estar se adaptando.
A Lei estabelece metas, instrumentos de prevenção e redução na geração de resíduos, com foco no consumo sustentável e um conjunto de ações para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos, bem como a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Essa parte Jandira ainda não conseguiu fazer.
Conseguiu, no entanto, instituir uma pesada punição – na forma de multa – para o morador que, por sua vez, tentar fazer o mesmo que a administração. Exemplo bem típico do “faça o que eu mando, não faça o que eu faço”.
