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Ivan Valente: Crise no ninho tucano

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Por Ivan Valente - deputado federal pelo PSOL-SP

Por Ivan Valente - deputado federal pelo PSOL-SP

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A crise ronda o ninho tucano. Não houve necessidade de interferências externas, apenas as suas próprias contradições. Talvez a falta de “projeto de país”, como disse o vice-presidente da legenda, Alberto Goldman, acelere as celeumas partidárias também instigadas pela ausência de coerência e pelas disputas pessoais. O ego conta muito nesses momentos.

O PSDB votou pelo fim da reeleição, sendo que foram os próprios que a criaram para manter no poder Fernando Henrique Cardoso. Aliás, na época, a suspeita da compra de votos de parlamentares para aprovar a emenda deixou muitos de cabeça em pé. Infelizmente, o caso não foi levado adiante. Os tucanos se posicionaram pelo fim do fator previdenciário, outro mecanismo por eles criado.

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Dessa vez FHC não aguentou e bradou ao dizer que “o PSDB votar pelo fim do fator previdenciário abala o seu prestígio”. Soa irônico, afinal o fator prejudica enormemente o acesso integral às aposentadorias dos que trabalharam vidas inteiras.

Outro desencontro viu-se no debate acerca do impeachment da Presidenta da República. Parte da bancada de deputados federais, liderados pelo Carlos Sampaio, esquecida das regras democráticas, quis por um fim rápido ao segundo mandato.

Outros, mais ponderados ou talvez com alguma memória do passado distante socialdemocrata, consideraram um exagero. Mesmo em relação à terceirização, os parlamentares não andaram todos na mesma direção. Tantos sinais ambíguos deixam a sociedade sem saber ao certo para onde vai o PSDB.

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Para amainar os problemas, Aécio será reconduzido à presidência da legenda. No entanto, a direção nacional terá mais membros dos PSDB de São Paulo. O deputado Silvio Torres será secretário-geral do partido.

O representante atual neste cargo, Mendes Thame, criticou a “cultura enraizada ao longo dos anos em que poucos participam das decisões internas”. Em recente escolha do presidente do diretório municipal de São Paulo, a crítica de Mendes se fez clara, quando tão somente 71 pessoas alçaram Mário Covas Neto ao posto máximo em disputa.

Descobrir o próximo candidato à presidência da república é tarefa difícil. Alckmin, Aécio, o Serra que nunca desiste. Os tucanos abandonaram de vez o perfil socialdemocrata. Até com o golpismo alguns chegaram a flertar.

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A crise no ninho tucano também se agrava porque o governo Dilma se apropriou, em grande parte, de seu programa econômico, com a ampliação do ajuste fiscal encabeçado por Joaquim Levy. Fato este que deixa o tucanato ainda mais desorientado, sem discurso e refém de um conservadorismo fisiológico e sem projeto para o país.

Conservadorismo, ausência de projeto político e caciquismo em alta são fatores que não indicam um bom caminho. O problema maior reside, porém, na tentativa em vigência de recriar a identidade partidária: a legenda se cristaliza cada vez mais como representante da direita e do reacionarismo no país.

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