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Opinião: Brasil, 25 anos do Plano Real e maturidade

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plano real

Bruno Sindona*

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Cotidianamente olhamos para o cenário econômico brasileiro e nos frustramos. Claro que, comparados com as economias mais desenvolvidas do mundo, estamos engatinhando. Quando falamos de liberdade econômica, produtividade e transparência, por exemplo, estamos há anos luz de distância dos EUA ou da Zona do Euro. Essas comparações são fáceis de fazer e mais fácil ainda é utilizá-las para diminuir nossa autoestima. Mas será que é esta a comparação que deve ser feita? Para mim, a comparação mais justa é a do Brasil de hoje com o Brasil de ontem.

Estamos completando 25 anos de implantação do Plano Real, a manobra econômica mais ousada que se tem notícia. Uma articulação complexa e arriscada em um momento em que o Brasil galopava sem rumo. Literalmente vendíamos o almoço para comprar o jantar. Hoje se debate em qualquer esquina aplicações financeiras, investimentos, como fazer para ganhar mais. Naquela época se debatia apenas o que fazer para não perder o dinheiro que se tinha, ou simplesmente, como fazer para que o salário do mês passado fosse suficiente para comprar a comida deste mês.

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O Brasil não se planejava, era impossível pensar em políticas públicas, planos de crescimento, sonhar com um Brasil pujante, só se podia pensar em como combater o monstro da inflação. Pois bem, o plano foi e ainda é um sucesso, o monstro foi vencido e a partir daí temos de fato uma economia madura que pode disputar e negociar de igual para igual com os países mais desenvolvidos.

De lá para cá, o Brasil sempre esteve envolto em crises políticas. O momento da implantação do plano por si já foi turbulentíssimo, os Anões do Orçamento já haviam deteriorado o governo. Depois tivemos a Crise dos Tigres Asiáticos que dilacerou a economia mundial e trouxe não só reflexos econômicos, mas muitos políticos. Após todas as batalhas que FHC travou em busca da reeleição e para privatizar a Vale, acabaram ocasionando a deterioração da sua imagem, destruindo um enorme capital político e popular. Por conta disso o Brasil teve de enfrentar toda turbulência causada pelo Fora FHC.

Logo após este momento, a possível eleição de um candidato de “esquerda” causou um furor na economia. Só se viam riscos para todos os lados, o dólar disparou – para se ter uma referência (em números corrigidos), hoje o dólar precisaria bater R$ 7,50 para alcançar os patamares pré-eleição do Lula. Quem imaginava que haveria calmaria e que, pelo menos, os escândalos de corrupção eram coisa do passado e da “direita”, caiu da cama com o Mensalão em 2005, escândalo que deteriorou o governo e a estabilidade política, retirando do palácio as peças fundamentais do governo.

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Chegamos em 2008, novamente crise mundial, nunca tinha se visto duas crises tão próximas acontecerem. Neste momento o Brasil começa a impulsionar a economia artificialmente, manobra muito bem aplicada, até um certo momento. Quando já estávamos no primeiro mandato de Dilma, perde-se a mão e começamos a sofrer novamente.

No meio de um furacão econômico, se inicia a operação Lava-Jato e vem uma nova crise política, com a eleição mais dividida e sangrenta da nossa – também recente –democracia. O PT se desmancha e a economia vai junto. Ânimos acirrados e a podridão da máquina política brasileira exposta. Neste momento, o Brasil é apresentado ao Brasil. Empresários presos, políticos presos, impeachment, presidentes presos, nova eleição – a mais improvável de toda nossa história – crise na mídia todos os dias, Brasil polarizado, economia lutando para respirar e assim vamos.

Olhando para trás, vemos todas essas batalhas absurdas que não nos mataram. Olhando mais longe, lembramos que nossa democracia só tem 35 anos. Mais longe ainda, vemos que superamos 100 anos de inflação continua. Qual é a única conclusão à qual podemos chegar, gostem os pessimistas ou não? Estamos maduros, acreditem se quiserem. Hoje o Brasil é um país sólido, com fundamentos políticos e econômicos sólidos, e estamos evoluindo.

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Estamos mais produtivos, mais democráticos e transparentes. Nossa moeda enfrenta gloriosamente as adversidades, nossas instituições superam os interesses pessoais, nosso povo evolui. Temos uma infinidade de desafios sim, mas também temos condições de superá-los. Crises e governos passam, o Brasil permanece. Se não olharmos para trás e percebermos o que conquistamos, iremos sempre ficar com um gosto amargo de fracasso na boca. Este fracasso não existe. É difícil sim, poderíamos ir mais rápido também. Mas o fato é que vamos em frente, gostem ou não.

Bruno Sindona é CEO da Sindona Incorporadora
Bruno Sindona é CEO da Sindona Incorporadora