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Damares no Tinder levanta debate sobre sexualidade de idosos

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Esta semana, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, revelou que criou uma conta no Tinder, aplicativo de relacionamentos, para encontrar um marido. A fala levanta o debate sobre a sexualidade da pessoa idosa, que, segundo a médica geriatra Roberta Parreira, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), ainda está envolta de preconceitos, mas também demanda atenção dos profissionais de saúde.

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“Com a inclusão digital, os idosos estão interagindo mais, socializando com familiares e pessoas de outras gerações e se fazendo ser ouvidos. Esse pode ser considerado um bom uso da tecnologia. Mas ainda é presente em nossa sociedade um mito do idoso assexuado. Muitos familiares, por exemplo, acham tabu o avô ou a avó transar, pois acreditam que eles podem se machucar ou enfartar. Para eles, a sexualidade dos idosos não é vista como algo natural”, explica a especialista da SBGG.

Mas a médica geriatra garante: para seus pacientes idosos, a sexualidade quando vivida é parte importante de uma vida saudável. “Meus pacientes conversam comigo sobre o assunto quando se sentem à vontade. E dizem que veem o sexo como uma necessidade de vida, algo agradável. Ainda que nesta etapa da vida, por exemplo, homens e mulheres tenham condições físicas e biológicas particulares”, diz.

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“O que preocupa é a segurança digital. Recentemente, foi noticiado pela mídia o caso de uma idosa que marcou, depois de dois ou três meses conversando pelo Tinder, um encontro na casa dela, onde sofreu violência física. Esse pode ser considerado um mau uso da tecnologia. O idoso não é obrigado a abrir sua vida sexual para a família, porém, antes de combinar com um desconhecido pela internet, é preciso marcar o encontro em local público e avisar alguém do seu convívio social. Muitas pessoas não vivenciaram essa tecnologia desde cedo, por isso, é preciso ter uma atenção até com abuso financeiro na internet”, alerta a médica geriatra Roberta Parreira.

Envelhecendo no século XXI

Com cerca de 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e a expectativa de que a população ultrapasse os 73 milhões de idosos até 2060, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil de hoje as pessoas envelhecem em condições sociais e culturais diferentes que no século passado. Com isso, relata Roberta Parreira, o advento dos medicamentos para disfunção erétil permitiu o retorno à vida sexual ativa para muitos idosos. Nesse contexto, o profissional de saúde se faz importante na orientação para o cuidado e a atenção com o uso dessas medicações e com as práticas sexuais.

“A pessoa não deixa de ter sexualidade quando envelhece. Se o envelhecer pode trazer algumas perdas e lutos, a sexualidade nesse contexto, quando preservada, é uma maneira de ela se sentir viva e ter qualidade de vida, estar feliz consigo mesmo, muito embora a imagem corporal e da sexualidade na mídia e na sociedade sejam erroneamente relacionados apenas à juventude. Então, os médicos geriatras e os profissionais especialistas em Gerontologia devem incentivar para que os idosos não tenham vergonha da sexualidade e da identidade sexual. Afinal, há situações, por exemplo, em que a pessoa idosa homossexual volta para o armário para ser aceita na família”, salienta a especialista da SBGG.

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Os profissionais de saúde, segundo ela, têm papel fundamental até mesmo na orientação para as práticas sexuais mais seguras e no enfrentamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como a sífilis e o HIV/Aids, que são cada vez mais frequentes entre a população idosa no Brasil. Estima-se que apenas os casos de HIV/Aids entre idosos no país cresceram 103%, de 2007 a 2017, segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2018, do Ministério da Saúde. Sendo que entre as mulheres idosas o crescimento foi de 657% nesse mesmo período.

“As infecções pelo vírus da Aids têm aumentado entre idosos. É importante que os profissionais de saúde peçam teste de sorologia e auxiliem no cuidado e na prevenção. Quando se investiga demências, por exemplo, destacar Aids e sífilis é parte do protocolo. As ditas comorbidades precisam ser verificadas até para saber de possíveis interações medicamentosas. Além disso, precisamos de campanhas e políticas de saúde voltadas a essa população e outros grupos entre os quais os casos de HIV estão crescendo”, alerta a médica, que também é mestre em Epidemiologia, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Embora Damares se reconheça como “uma jovem senhora quase idosa”, quando questionada sobre como irá curtir a velhice, a chefe da Pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos respondeu: “Que vamos fazer com tanta vida? Eu vou é dançar muito, eu vou é cantar muito e vou namorar muito”. E é realmente isso que sugere a médica Roberta Parreira, complementando: “Nessa fase da vida, as pessoas têm uma bagagem biográfica que deve ser respeitada e o profissional de saúde deve contribuir para que a sexualidade esteja relacionada à melhoria da saúde e da qualidade de vida dos idosos”, conclui.

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